A abelha e a barata

Mário Carneiro
2 min readApr 29, 2021

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“You know, I’d like to keep my cheeks dry today,
so stay with me and I’ll have it made”

Hoje apareceu uma abelha por aqui. Pensei que elas nem existissem mais. Toda hora aparece na internet que elas estão ficando em extinção, num é?

Fiquei alarmado pois dia desses surgiu também, de madrugada, uma baratona no banheiro. Do tamanho de um dedão de pé — te juro. Daquela vez, saí correndo para pegar o veneno, mas vi que a embalagem estava leve, acabando, então tinha que fazer valer. Para minha sorte, ela correu para trás de um armarinho, então eu conseguia vê-la por cima do móvel. Ela ficou lá, encolhida na tangente, nem tentou subir a parede, enquanto eu introjetava jatos e jatos de veneno naquela monstruosidade.

Imaginei que ela estivesse morrendo porque baratas levantam a barriga para cima nessas horas, não é? De qualquer forma, como não consegui pintá-la com o branco do aerossol — procedimento padrão desse tipo de batalha por aqui — tranquei a porta e vedei todos os espaços e frestas pelas quais a ardilosa poderia atentar uma fuga em algum momento de desatenção de minha parte, e talvez tramar uma vingança. Quem sabe?

No dia seguinte, lá jazia a defunta, na mesma sombra que havia a deixado na noite anterior.

Já com a abelha, meu primeiro impulso foi o de tentar reposicioná-la gentilmente com um cabo de vassoura. Imaginei que poderia transferi-la para a janela, libertando-a em seus voos para fazer seja lá o quê que abelhas fazem — operações alegadamente essenciais para a existência humana e tudo o mais.

Sem êxito. A abelha então se alojou na caixinha de som do computador. Enquanto digito, dou pequenas olhadelas esporádicas nela pois, diferente da barata, eu não a temo.

Uma vez, em uma viagem, levei uma ferroada que parecia que um novo membro se desenvolveria em meu corpo. Por outro lado, talvez o maior mal que uma barata já me fizera tenha sido esburacar roupas — até isso, na verdade, é pura especulação.

E você, tem medo por quê?

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Mário Carneiro
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