Beleza
“Strange as angels
Dancing in the deepest oceans
Twisting in the water
You’re just like a dream”
Selva de concreto é uma expressão que carrega muita poesia, ela me disse, porque as pessoas do mato dificilmente deixam de ver graça no verde de todo dia, diferentemente do povo da mercadoria, como diz o xamã ianomâmi, que se desdobra e agoniza tentando inventar novas cores para atirar no cinza de suas cidades. Cinza e verde, porém, são tão somente duas cores, nem melhores, nem piores — assim, ela arremata o assunto.
That stole the only girl I loved
And drowned her deep inside of me”
Acredite, já me enveredei por todos os discursos — o das pequenas coisas, o do sublime, o da magia, e por aí vai — só que a porosidade dos pensamentos é tal qual a de uma esponja, e sua capacidade de absorção depende diretamente da qualidade do material que a compõe. Nesse caso, metáforas à parte, falo da inerente fragilidade do abstrato.
Escrevo com pressa pelo medo de perdê-las — as ideias e ela, que ziguezagueiam diante de minha perplexidade. Tudo aqui diz corra.
Mas, como há encanto nessa vida ainda! Às vezes, a gente se esquece.
— Você lembra Saramago e olhar, ver e reparar…
— Beleza.