Desatino

Mário Carneiro
2 min readAug 7, 2022

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“Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas”

Enquanto a vejo ir embora vez mais, tentam me convencer de que a vida é uma equação que é sempre melhor quanto mais positiva for, e me desdobro em explicações acerca da doçura inerente à dor que sempre sinto em cada um dos passos que ela dá para longe de mim. Dor essa que, insisto, nunca é a mesma; a cada fuga, se metamorfoseia e se hibridiza de acordo com os novos espaços e distâncias entre nós.

“[…]tudo é permitido até beijar você no escuro do cinema/Quando ninguém nos vê”

Insistem na ideia de movimento e na dicotomia moderna corpo/mente; retruco com a certeza da indissolubilidade do ser em camadas, como quando sou inteiro, suprassumido, ao lado dela. Renegam tudo aquilo que não gera moção no que chamam de concretude enquanto me transporto àquele mundo-outro, lá onde ela nunca se vai. Talvez nem todo mundo consiga enxergar o sublime diante de seus olhos — essa é a Verdade?

Se é que há, aposto minhas fichas na intensidade, enquanto choro mais um adeus, tal qual os poetas de outrora, com a certeza racional da incongruência, não podendo me importar menos com ela, posto que, em absoluto, não me interessa tudo aquilo que aponte para a impossibilidade (real ou não) de nós.

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Mário Carneiro
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