Dispensa
“Quando eu perguntei
Ouvi você dizer
Que eu era tudo o que você sempre quis
Mesmo triste, eu estava feliz”
Não existe mais nenhuma dimensão de nós a ser dita, explorada, sonhada. O que restou foi uma caixinha velha guardada no fundo da dispensa, atrás dos potes de farinha e de arroz. Ela é fechada; e a gente tende a esquecer as coisas dentro desse tipo de recipiente. Acaba parecendo que elas sequer existem.
Só que eu ainda lembro. Com certeza a Marisa Monte usou essa expressão de um modo muito melhor. Porque já não tem nada a ver com você, tampouco nós.
Que esquecer você”
Tem a ver com o prazo de validade, com orgulho, com o engasgo. Como pode, anos e anos de palavras ditas e ainda ter algumas tantas retidas? Sei que não há por quê, mas ainda dói. Imagino algo mais que te fizesse responder que não, que eu fui importante e me desse um beijo na bochecha para eu lembrar só mais uma vez do teu tempero e dos teus lábios.
Não falta quem diga que já passou da hora de te jogar fora, e eu queria dizer que essa é a última vez que falo de você e que lembro de você lá no fundo da dispensa.
Mas, a verdade é que eu sempre volto para te provar.