Estreito

Mário Carneiro
2 min readDec 30, 2021

--

“Quando você foi embora
fez-se noite em meu viver.
Forte eu sou,
mas não tem jeito,

hoje eu tenho que chorar”

Na calçada, como diz o padre, Jesus dorme enquanto procuro um lugar para tomar um chope. A alegria é a prova e não há paraíso que a sustente. O mais claro dos céus, acredite, esconde o sol. Ou é ele quem escapa, me olha pelos ombros e escombros, como quem ri de displicências anunciadas?

É porque te toco
com os dedos
que me queimo.

Saí de lá, regressei cá. Não importa onde a gente vá,

nóis
é
nóis.

“Estou só e não resisto/muito tenho pra falar”

Gel nas mãos,
máscaras nos pulsos.
Pueblo sin piernas,
pero que
morre globalizado.

O mar está interditado. Freud nunca explicou nada — o que une a psicanálise à meteorologia. Descansar cansa. I got blisters on my fingers!

Meus pés, ao menos,
são livros.
Tudo vai bem,
tudo legal.
Vida longa ao carnaval,
morte à soirée.

“Vou seguindo pela vida,
me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte,
tenho muito o que viver.

Vou querer amar de novo
e, se não der, não vou sofrer.
Já não sonho, hoje faço
com meu braço o meu viver”

Isto posto, faz-se necessário, mais do que nunca, pegar o medo pelas mãos e botá-lo pra dançar.

--

--

Mário Carneiro
Mário Carneiro

No responses yet