Haja tempo
“(an.si:e.da.de)
sf.
1. Sensação de aflição, receio ou agonia, sem causa aparente
2. Inquietação ou impaciência causada por algum desejo ou vontade [+ de, por : “…persistia em mim a ansiedade de uma carta de Elisabeth…” (Josué Montello , Sempre serás lembrada.) ]
[F.: Do lat. anxietas, atis.]”
O maior dos prazeres culposos agora é a contemplação do devir: conceber o futuro tornou-se um privilégio, sinal de status e hierarquia. Sob o tal do realismo capitalista, acumulamos capital onírico enquanto nossas costas travam com a culpa por ainda nos darmos ao luxo de imaginar — ainda que, particularmente, assim como com toda desigualdade, meu desconhecimento do indivíduo me submeta ao agridoce acolhimento social: talvez a revolução comece com cochilos!?
O mais cândido dos pensamentos diz que vai ficar tudo bem. A frieza dos bons-e-velhos fatos, contudo, é mais brusca no olhar: para muitos, boa parte das coisas todas nunca esteve bem, e a tendência é a piora. Não tem década, ciclo ou rebelião que, até então, tenha mudado essa aparentemente onipotente sina.
Todavia, felizmente, os fatos são burros, e a vida sempre os transborda, sobretudo porque a morte carece dela. Se desespera por ela, da mesma forma que nos angustiamos ao menor sinal de ameaça à nossa integridade. Predeterminada pela dialética, a contradição nos fragmenta descabidamente, mas tal devastação se dá por conta, fundamentalmente, do modo de produção. O cuidado, por outro lado, é resistente.
Justificações são infinitas para o por quê de carregarmos o mundo nas costas. Contudo, acredito que, no fundo no fundo, todos sabemos que o melhor dos descansos pressupõe uma entrega — com seus intrínsecos prazos, metas e cobranças, sim, mas não alienada. Enquanto houver gente, haverá criação e, mais do que nunca, se faz absolutamente fundamental sonhar o mundo.