Hibernação
“E ainda que a realidade me limite,
a fantasia dos meus sonhos me permite
que eu faça mais do que as loucuras
que já fiz pra te fazer feliz”
Para o bem ou para o mal, a verdade é que não sei ser Rubem Alves escrevendo na beira da varanda, com um agasalho, chocolate quente e o calor da alegria dos netos brincando. A verdade é que, enquanto dou as boas-vindas à brisa do outono, me lembro do frio das tuas mãos, da doçura do teu beijo e do teu colo…
Como quem finge ainda estar adormecido, meu peito se enche de esperança. Será?
Ao me levantar, te encontro resplandecente por entre as acácias, se entretendo mais leve que a luz do sol desses dias de conforto e carinho.
Te acompanho. De repente, sinto uma vírgula no teu sorriso:
“Aconteceu algo? Você tá diferente”
Com essas tuas mãos, você me conduz e eu me desfaço na certeza, parafraseando Galeano, do momento imortal; do verdadeiro primeiro beijo.
Você me mostra o mais recente livro que está a contemplar.
“É curioso pensar que foi com você, lá atrás, que aprendi o gosto pela literatura”
Na tentativa de me proteger da queda térmica, padeço agarrado ao berloque que fiz daquela joia bonita, mas fossilizada; palavras preteridas, solitárias, do meu amor.