Hibernação

Mário Carneiro
2 min readApr 21, 2021

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“E ainda que a realidade me limite,
a fantasia dos meus sonhos me permite
que eu faça mais do que as loucuras
que já fiz pra te fazer feliz”

Para o bem ou para o mal, a verdade é que não sei ser Rubem Alves escrevendo na beira da varanda, com um agasalho, chocolate quente e o calor da alegria dos netos brincando. A verdade é que, enquanto dou as boas-vindas à brisa do outono, me lembro do frio das tuas mãos, da doçura do teu beijo e do teu colo…

Como quem finge ainda estar adormecido, meu peito se enche de esperança. Será?

Ao me levantar, te encontro resplandecente por entre as acácias, se entretendo mais leve que a luz do sol desses dias de conforto e carinho.

Fotografias digitais não desbotarem é uma metáfora de Babel para a contemporaneidade. Se nada se desfaz, tudo é legítimo e já não mais existe memória. Na minha, você estava lá.

Te acompanho. De repente, sinto uma vírgula no teu sorriso:

“Aconteceu algo? Você tá diferente”

Com essas tuas mãos, você me conduz e eu me desfaço na certeza, parafraseando Galeano, do momento imortal; do verdadeiro primeiro beijo.

Você me mostra o mais recente livro que está a contemplar.

“É curioso pensar que foi com você, lá atrás, que aprendi o gosto pela literatura”

Na tentativa de me proteger da queda térmica, padeço agarrado ao berloque que fiz daquela joia bonita, mas fossilizada; palavras preteridas, solitárias, do meu amor.

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Mário Carneiro
Mário Carneiro

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