Hipertensão

Mário Carneiro
1 min readSep 8, 2021

--

“Eu é que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada, cheia de dentes
Esperando a morte chegar”

O seu problema, querido, é que você não vive o momento — sim, me refiro à mais clichê das fórmulas justamente porque tu pensas que o processo intelectual descobre as tramas, mas nas mãos erradas (e são muitas) tudo o que ele faz é colonizar o comum, aquilo que, por mais que muitos reneguem, todos têm: um coração.

Cê não me subestima, e é disso que eu gosto. Se você quisesse — soubesse? — andar, talvez nós pudéssemos ir por aí juntos. Com o tempo, quiçá tu compreenderias a vacina que mora em meu veneno. Que ele é doce, ao menos, sei que você não pode negar.

“Há tantos caminhos, tantas portas/mas somente um tem coração”

Só que claramente ainda te falta essa liberdade tão burguesa que você, na mais terna inocência, afirma ter superado. Para quem versa tanto sobre dialética, chega a ser cômica a tua falta de experiência. Quase dá vontade de pegar na tua mão e te ensinar.

Mas é que agora estou ocupada demais indo enquanto você ainda espera.

Desse jeito, teu coração vai explodir — e não será subindo escadas.

--

--

Mário Carneiro
Mário Carneiro

No responses yet