Linguística Aplicada do fim

Mário Carneiro
1 min readAug 10, 2020

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“A vida já não é mais vida.

No caos, ninguém é cidadão.”

A desigualdade não acaba na morte. Talvez seja justamente esse o momento do seu ápice.

Hoje é um daqueles dias que exagerei na dose do café. A sensação é de uma overdose de vida — o que é horrível, em um momento de explosões e, bem, o que você sabe que está rolando lá fora. A má distribuição começa aí.

Será que Pierre Bourdieu imaginou falar sobre capital vital, onde o clichê humanista do “valor da vida” ganha materialidade quase literal?

Dá pra ver ali no canto a arroba de quem é o Dono da Arte né? Ah, que bom! Minhas preocupações se foram…

Cem mil.

100 mil.

100.000 .

Até o modo como a gente escreve a morte nos faz senti-la diferente.

Não queremos nos acomodar. Não podemos achar que é normal. Mas essas mortes dizem menos porque não são heroicas, e sua injustiça se camufla justamente em uma das palavras que frequentemente substituem a normalidade: o natural. Diferentemente de Hiroshima e Nagasaki, não parece tão obvio que foram vidas desperdiçadas pela glutonice dos embriagados de poder. Sim, eles controlam até as palavras — não se trata de conspiração nenhuma; é claro e evidente, para além de fake news.

A língua já não é mais capaz de articular nossa desolação.

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Mário Carneiro
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