Longos caminhos

Mário Carneiro
2 min readOct 14, 2019

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“Eu chorava de amor,

e não porque sofria.”

(Uns Dias, Santorini Blues, 1997).

Herbert Vianna salvou minha vida. Mais de uma vez. Talvez não de seu fim físico, mas certamente existencial. Antes do bigodudo cearense (des)colonizar meus ouvidos e coração, foi o paraibano de João Pessoa quem melhor traduziu o que se passava no meu peito.

(Aqui, deixo uma confissão. Por algum motivo, falar sobre os mortos sempre parece mais bonito [ou fácil]. Inspirado no que Belchior é para mim, vislumbrei o mesmo de Herbert. Por que nós não homenageamos os vivos? Pois registro aqui minha idolatria por este outro músico, artista, humano).

É na imagem dele, suas músicas e, fundamentalmente, tudo que simboliza o desgraçado episódio em que Herbert perde sua esposa, que construí o alicerce de minha concepção das palavras amor e paixão. Ainda que a devoção quase religiosa a Lucy me embriagasse de romantismo, era na afirmação de Dado Villa-Lobos, registrada no documentário Herbert de Perto (2009), que eu encontrava abrigo. Não exatamente nestas palavras, o Johnny Marr tupiniquim comentou sobre como todos os amores de Herbert eram o amor da vida dele, ao menos no tempo de suas respectivas decorrências.

Herbert com um de seus amores da vida: Paula Toller, musa de composições como a magnum-opus da sofrência — e hino absoluto de minhas noites em claro: “Quase Um Segundo”.

Não obstante, depois de Lucy, o canto amansou, “a dor ainda não cicatrizou”, e o peso da vida parece agravar a dificuldade de mover as rodas da cadeira:

“Estou praticamente sem companhia na minha cama. Onde a Lucy deitava eu tenho sete guitarras e fico variando de uma para a outra, é muito intenso.” (Conversa com Bial, 2017)

Talvez Dado tenha se equivocado; Herbert encontrara a the one, e nunca mais voltou. Essa dor merece montanhas de respeito. A possibilidade de afetos tão imensos é o que me faz seguir em frente.

Obrigado, Herbert, por ter me dado a chance de não ver no amor somente mais une chanson triste.

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Mário Carneiro
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