Medo da vida

Mário Carneiro
1 min readOct 5, 2022

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“Pela geografia, aprendi
Que há, no mundo, um lugar
Onde um jovem como eu
Pode amar e ser feliz

Procurei passagem:
Avião, navio.
Não havia linha
Praquele país”

No congresso de Drummond, fui palestrante de abertura, com todos os devidos louros e consagrações. Na vida real, no entanto, sou insuficiente — não trabalho o suficiente, não milito o suficiente; sonho demais ao ponto de viver neles.

Derrubo Cuba Libre por todos os cantos. É uma celebração; todo ano é promessa. O que impera, todavia, é uma série de jargões que se traduzem em sina: resistência, sobrevivência, luta.

“Eles vêm buscar-me na manhã aberta
A prova mais certa que não amanheceu”

Quem assim vive, o faz na esperança da superação, de que um dia o merecido descanso virá, mas o que vemos é tal conjunto de sentenças se tornando condenações — e a vida se torna uma pena de toneladas.

Haja fibra, estamina, vigor. É preciso estar atento e forte. Nós nos inspiramos na imagem (que criamos) das Amazonas — guerreiras, guerra. Ninguém se lembra de quem fazia cultura nas fronteiras de Cítia.

Ademais, dizem, é preciso hombridade. Masculinidade. Assim, a humanidade se encolhe, fica pequenininha, do tamanho dos soldados, dos ditadores, dos democratas.

E a vida, sempre nova, acontecendo de surpresa, caindo como pedra sobre o povo…”

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Mário Carneiro
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