O menor coletivo do mundo

Mário Carneiro
2 min readJul 25, 2023

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“A cultura,
A civilização,
Elas que se danem…

Ou não”

Há quase cem anos atrás, Sartre diagnosticou nossa anemia quando percebeu que temos a tendência a achar que l’enfer, c’est les autres. Todo individualismo — coleira estranguladora da realização plena do Ser — é mesquinharia perto da aventura do contato, da troca de olhares. Do respirar de gás carbônico advindo das narinas de quem nos beija, há os tolos que dizem de sua toxicidade. Sempre haverão. Nós continuamos beijando, babando, suando. Amando.

E do amor à profilaxia, à hipocondria e ao asseamento sempre, sempre surge a sujeira. Para a nossa sorte, porém, das pouquíssimas coisas que a publicidade acertou em toda sua existência, a mais verdadeira é que se sujar faz bem. Lambuzar-se de Gente é a mais elevada forma de glutonia.

“…contanto que me deixem
Ficar na minha,
Contanto que me deixem
Ficar com minha vida na mão
Minha vida na mão
Minha vida”

Vale dizer, no entanto, que não se trata de monogamia. A dimensão do gamos prevê infinitas possibilidades, pluralidades, que não cabem, nem querem caber, em nossos esquemas de poder. A couple of couples; quanto mais, melhor — ou ainda, ao gosto do freguês, desde que o freguês não emudeça seu desejo.

O menor coletivo do mundo acontece quando a gente percebe que não cabemos no Uno e deixamos de ser-em-si para ser-com.

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Mário Carneiro
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