O prazer é neto da dor
“Atrás
Mais ninguém,
Vou
Pra quem?”
No meio deles, tem a amizade — que Caetano chamou de samba, de tantos outros nomes possíveis. Não é bem um sentimento, mas funciona como uma baliza na bagunça do coração, tal qual o juiz que — a despeito das acusações mais diversas, a princípio — não joga em nenhuma das equipes envolvidas na partida, mas faz o necessário para a bola rolar num imbróglio mais ou menos organizado.
Se fossem times, a dor seria a Ponte Preta (macaca querida!) e o prazer seria qualquer um desses clubes que torcem aqueles que acham que futebol é só uma disputa pela maior pontuação. Aqui a palavra performance é importante: no jargão esportivo — e, especialmente, futebolístico — , é sinônimo de resultado, mas a arte, ah, a Arte! O que seria da Ponte Preta e da dor sem a arte e a filosofia?
Essas são as perguntas que só se faz a um verdadeiro amigo. O que explica alguém ser pontepretano hoje em dia? O que explica essa necessidade de um quê a mais na tristeza para se fazer uma canção pungente, comovente, acachapante?
Creio que não seja no amor que se encontre tais respostas. A amizade é o primogênito conciliador que une gerações distantes, o amor é o filho mais novo que quer mais é que eles se fodam (mesmo chorando todas as noites); um é o fio que costura o prazer e a dor, enquanto o outro os faz de pedra e bate, a fim de produzir calor à vida.
É por esses e outros mistérios que seguimos torcendo, cantando e, no meio disso tudo, amigando.
(para, no fim, o amor bagunçar tudo e recomeçar o jogo)