Os cubinhos da casa

Mário Carneiro
2 min readJul 13, 2019

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(recomendo fortemente que veja o filme antes de ler. É curtinho. Clica/põe o dedo aqui).

Hoje eu revi meu filme favorito da vida: La Maison en Petits Cubes (já escrevi sobre ele, há tempos, aqui). Há anos não o via, pois ele me desperta todas as dores do coração. É como olhar para uma foto de tudo que ficou para trás, que constitui quem eu sou, e a sensação é de se sentir anacrônico.

Todavia, desta vez, foi diferente. É simplório vê-lo e focar na dor da nostalgia e do irrecuperável, mas, se tem algo que ele nos ensina também, é sobre a responsabilidade que advêm das nossas ações, nossos pensamentos e sentimentos. Verdade seja dita, o velhinho escolhe a viagem no tempo e o final (ainda que tenha, mais uma vez e como sempre, me derrubado em lágrimas) é a coroação de sua entrega ao passado. O que mais me perguntei desta vez foi: cadê os filhos do velhinho? Por quê ele se isola na torre, ao invés de colher os frutos do amor com sua (aparentemente) finada companheira?

Perceba: não estou culpando-o. É possível que o sofrimento da(s) perda(s), da mudança, seja o que o enraíza na torre, na condição. Contudo, o mais triste é que ele não vislumbre os efeitos de toda essa sua história.

Invariavelmente, nós somos a única certeza do que resta de tudo aquilo que vivemos. Me parece necessário, se não por respeito a nós mesmos, mas aos cubinhos que idolatramos, que vivamos. Ainda que em homenagem ao passado, em função de memórias.

Elas merecem outros brindes.

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Mário Carneiro
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