Penélope

Mário Carneiro
2 min readFeb 18, 2021

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“Quem sabe, rebuscando essas mentiras
E vendo onde a verdade se escondeu
Talvez se encontre ainda alguma chance de juntar
Você, o amor e eu”

Encontrei-a no fundo de um Gatorade de uva. De lá, ela emergiu num arco-íris, planando sobre o mar de concreto da Glicério.

Dizem que a avenida ficou boa reformada, mas acho que tem mais a ver é com a desgraça que era antes. As pessoas estão vendo mais beleza em concreto do que em sujeira.

Cores e amores impossíveis cercam Penélope.

De acordo com extensa pesquisa realizada para o presente escrito,

[…]magenta não existe no espectro. É uma ilusão provocada na visão entre os cones receptores de vermelho e azul, que interpretam como a ausência de verde, sua cor complementar. Assim, na mistura de cores como no disco de Newton, vemos a formação da cor branca.

Quantos semblantes que outrora causaram paixões avassaladoras seriam completamente esquecidos se não fossem as redes sociais? Essas malditas são perversos dispositivos mnemônicos porque nos compelem à memória! Cada vez mais nos é vetada a possibilidade de olhar pra trás e pensar: mas será que foi assim mesmo? Esquecer (e ser esquecido) deveria ser mais do que um direito: um primado ontológico inalienável! Atualmente, só o contrário é verdade…

Na impossibilidade da deslembrança (e da atual inviabilidade de viver nesse mundo, mas acho que ninguém sabe falar disso de forma poética ainda), me apego àqueles beijos que nunca existiram, de pessoas que mal ou sequer conheci e das cores que a Ciência diz não existirem, mas que estão aí, a pintar o mundo — melhor que muita gente, sim, mas também pior que muita personagem. Ou talvez seja o contrário?

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Mário Carneiro
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