Personagem

Mário Carneiro
1 min readMar 22, 2020

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Em algum momento da vida, ouvi que esse substantivo era necessariamente feminino. Sempre gostei de pensar nessa palavra. Passava a ideia de que havia a possibilidade de subversões espontâneas de coisas que nos parecem autoevidentes.

Sempre preferi protagonistas femininas nos mundos que crio em minha cabeça (e dedos). Não por algum tipo de essencialismo, mas as ficções nos dão essa oportunidade de imaginar outras narrativas, outros mundos — nao necessariamente melhores ou piores. Essa é a Ellana.

Tenho até medo de pensar demais n’as personagens. A vida sempre tão caoticamente material torna a fabulação compulsória uma eterna tentação. Num momento onde, para todos os lados que olho, vejo vazio, e, quando ouço as pessoas, elas anseiam pelo retorno ao normal, fantasiar é quase um castigo.

Pandemias fazem isso com a gente. Vemos os outroras sonhadores clamando pela brutal realpolitik. Os discursos hegemônicos dançam entre o desespero e a desilusão, como quando descobri que também existem os personagens. Espera-se fogo de gravetos molhados.

Espero que, um dia, aprendamos que é com utopias afetuosamente confeccionadas que se combate distopias.

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Mário Carneiro
Mário Carneiro

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