Personagem
Em algum momento da vida, ouvi que esse substantivo era necessariamente feminino. Sempre gostei de pensar nessa palavra. Passava a ideia de que havia a possibilidade de subversões espontâneas de coisas que nos parecem autoevidentes.
Tenho até medo de pensar demais n’as personagens. A vida sempre tão caoticamente material torna a fabulação compulsória uma eterna tentação. Num momento onde, para todos os lados que olho, vejo vazio, e, quando ouço as pessoas, elas anseiam pelo retorno ao normal, fantasiar é quase um castigo.
Pandemias fazem isso com a gente. Vemos os outroras sonhadores clamando pela brutal realpolitik. Os discursos hegemônicos dançam entre o desespero e a desilusão, como quando descobri que também existem os personagens. Espera-se fogo de gravetos molhados.
Espero que, um dia, aprendamos que é com utopias afetuosamente confeccionadas que se combate distopias.