Planta
“Vem, me acalma, traz os discos, fica
O que eu preciso é me esquecer…Me conta mais de você”
Abro os olhos, sinto meu peito encostado nas tuas costelas e o cheirinho do teu cangote. Os fios de cabelo a irritar a ponta do meu nariz.
Levanta, meu bem.
Eu não precisaria sair da cama, e você bem sabe como odeio manhãs, mas é assim que as coisas funcionam quando se vive a dois. Faz parte de meus desígnios te proporcionar um café doce, vez outra um cappuccino pra te surpreender.
Você diz que não gosta de imprevistos, mas, nessas horas, teu sorriso te refuta.
Foi com você que aprendi o valor das frutas no ensejar do dia.
O som do chuveiro se esvai, a luzinha do tostex fica verde. Quase me esqueço da água do cachorro e do manjericão. Acho que, hoje, você precisa de uns ovos — quarta-feira é fogo.
Qual vai ser o prato do dia? É quarta-feira — a gente compra algo gostoso para dar um gás na semana.
Sei que você prefere pedir naquele mesmo restaurante de sempre, mas sei também que você gosta das boas novidades, e eu sempre me esforço para que assim elas sejam.
Foi com você que tive coragem de comer peixe cru.
Após as inutilezas cotidianas — para você, grandes e importantes batalhas, todas elas — , repouso minhas mãos nos teus pés. Já é noite, você precisa descansar de todo esse mundo que carrega nas costas. Quanto a isso, já não falo mais nada; te aliviando um tantico desse peso, tá tudo certo.
Sei que você conta comigo, e facas preferem cortar do que levar murros — até pra elas isso não faz muito sentido. O que essa mão quer comigo, que não me pegar?
eu tive medo de você”
Deitamos. Fecho os olhos, sinto meu peito encostar em tuas costelas e fungo o xampu dos teus cabelos, sabendo que amanhã haverá cheirinho. Os fios de cabelo a irritar a ponta do meu nariz — que já nem me importo mais.