Poda

Mário Carneiro
1 min readJun 15, 2023

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“Sobre o dia em que me deixou triste,
Foi o dia em que tu decidiste ir”

Chovia em proporções bíblicas e você ansiava por flores. Se virava para trás e todos os tons de pele do amor se revezavam frame por frame; quadros que hoje se penduram nos jardins verticais de nossas memórias.

A velocidade dos segundos contrastava com a suavidade dos teus gestos, dos teus cílios dançando para cima e para baixo com as pálpebras. Era um consolo saber que esse casal nunca se separaria — tão diferentemente de nós dois.

“E a previsão de tempo errada
Diz que o dia hoje seria frio
Mas hoje fez um dia quente,
hoje fez um dia lindo”

Enquanto a água se infiltrava pelas rachaduras do concreto, você amputava, com a profundidade terna de um corte de papel, nossos dedos entrelaçados, pois que eram raízes. Era uma ideia inteligente aproveitar as precipitações para nos semearmos em novos solos.

Você e o nosso amor encontraram grandes campos verdes e fizeram floresta. Viva! Já eu, vivo a aguardar o novo surgir das pontas que as podas me relegaram.

E tudo bem. Nesse interim, eu cresço.

E espero.

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Mário Carneiro
Mário Carneiro

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