Poda
“Sobre o dia em que me deixou triste,
Foi o dia em que tu decidiste ir”
Chovia em proporções bíblicas e você ansiava por flores. Se virava para trás e todos os tons de pele do amor se revezavam frame por frame; quadros que hoje se penduram nos jardins verticais de nossas memórias.
A velocidade dos segundos contrastava com a suavidade dos teus gestos, dos teus cílios dançando para cima e para baixo com as pálpebras. Era um consolo saber que esse casal nunca se separaria — tão diferentemente de nós dois.
Diz que o dia hoje seria frio
Mas hoje fez um dia quente,
hoje fez um dia lindo”
Enquanto a água se infiltrava pelas rachaduras do concreto, você amputava, com a profundidade terna de um corte de papel, nossos dedos entrelaçados, pois que eram raízes. Era uma ideia inteligente aproveitar as precipitações para nos semearmos em novos solos.
Você e o nosso amor encontraram grandes campos verdes e fizeram floresta. Viva! Já eu, vivo a aguardar o novo surgir das pontas que as podas me relegaram.
E tudo bem. Nesse interim, eu cresço.
E espero.