Poesia de quê?
“Se lembra quando a gente
Chegou, um dia, a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba?”
Não tenho o mar, tampouco em meu céu há algo de especial. Tá, o sexto andar até que poderia ser considerado um diferencial, contudo, convenhamos que prédios não faltam nesse mundo; qualquer um poderia ser poeta em meu lugar — ao mesmo tempo que parece ser impossível achar beleza ao redor.
Sim, é verdade que ainda temos as artes de antes. Só que é muito pouco. Poesia é feita de carne e de rua, e eu bem sei que ainda tenho duas pernas — o problema é que o mundo, não. Atlas resolveu descansar, Sísifo simplesmente desencanou. Restamos nós, tendo que insistir que pairamos na redondeta porque até esse conceito não tem mais raiz.
Se é verdade que a tristeza é fundamental pra feitura de um bom samba, é igualmente verídica a imprescindibilidade da alegria. Revelação: nunca imaginei que tal sentimentozinho mequetrefe, perfumaria barata, me faria tanta falta. Não tanto por ele, mas porque sem a alegria, a tristeza não tem com quem dançar.
Tudo que nos resta é cavar escombros em busca de beleza.