Por (h)ora

Mário Carneiro
1 min readNov 28, 2024

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“Pra mim, que tudo era saudade
Agora, seja lá o que for”

De todas as decisões desastrosas que tomei em vida, as que mais me atormentam são as que foram baseadas em moralismo; aquelas as quais reneguei meu Desejo em prol de projeções idealistas, para seguir em frente — como se, no fim da linha, o mais alto lugar do pódio me aguardasse.

O que ganhei, com efeito, foi torcicolo. De tanto olhar para trás, meu pescoço travou e virei um Curupira às avessas, física e espiritualmente, sem nem um pingo da beleza dos contos originários. As bifurcações e encruzilhadas se tornaram estradas retas de asfalto, perfeitamente sinalizadas e estéreis.

“Meu caminho é meio perdido,
mas que perder seja o melhor destino”

Há pouco, aprendi a enxergar pelos ombros. No acostamento, vi uma oportunidade de recomeço. Ainda que seja um espaço limitado, que cedo ou tarde te obriga ao movimento, ele te dá um momento. E, às vezes, isso é tudo o que a gente precisa.

Enquanto o mundo corre, me esbarra e me atropela, eu reaprendo, diariamente, a engatinhar. Devagarinho, parando e respirando — com a cabeça ainda virada para trás, certamente, mas conseguindo, mesmo que talvez só de vez em quando, dar breves olhadelas ao que vem pela frente.

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Mário Carneiro
Mário Carneiro

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