Sobre a polissemia do onírico (ou “todas as maneiras pelas quais eu sonho com você”)
“And in the end
on dreams we will depend
’Cause that’s what love
is made of”
A gente sonha que pulou pela janela e, num passe de mágica, saiu voando, mas também com a casa própria. Ambos recebem a mesma alcunha, mas acontecem em espaços e tempos diferentes. O primeiro é aquele que, quiçá, revela nossos desejos e anseios ocultos; no segundo caso, é a manifestação consciente, ativa, de nossas intenções e aspirações.
Nesse sentido, gostaria de ressaltar a interseccionalidade do amor (romântico, etc. etc.), que demonstra como essas diferentes manifestações oníricas podem se revelar no mesmo interlocutor:
- Você coloca a cabeça no travesseiro e, ao fechar os olhos, A Pessoa Amada™ te surge: espontânea, imanente, sublime. O melhor dos beijos.
- Ao acordar, você brada: hei de conquistar o coração d’A Muy Amada Criatura!
Existe, ainda, uma terceira possibilidade, que acredito ser a mais perversa e, consequentemente, a mais inefável: o devaneio. Como uma espécie de injeção contingente sonial, ele interrompe o tempo da rotina cotidiana, frequentemente motivada pelo segundo tipo evocado anteriormente, e nos lembra que a mente não precisa ficar sempre limitada ao imediato, pintando o real com cores do onírico, misturando os tipos. É um híbrido, que potencializa os efeitos mais devastadores das outras categorias:
- Colocando o pé para fora de casa, você vê que, do outro lado da rua, há alguém parecidíssimo com A Pessoa Amada™, o que imediatamente aciona tanto a memória daquele beijo, quanto da promessa firmada.
Aí…
Bom. Interrompendo a presunção da linguagem, digo que, se você não se amedronta e vai atrás: meus parabéns! Muito te invejo. Porque eu, invariavelmente, me desmonto.
Mesmo assim, todo dia me deito, sonhando com que o ciclo se repita.