Trava-língua

Mário Carneiro
2 min readNov 2, 2022

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“Será que todo mundo é tão melhor assim?
Será que eu ganhei, mas não estou vencendo,
Não еstou sorrindo?”

Nunca fui de escatologias, mas os tempos em que vivemos exigem uma certa dose de bile e vísceras.

Você nunca será o suficiente para mim, nem ninguém mais, porque meus limites se implodiram; já não sei mais o que é esperar, diariamente estrangulado pela ânsia de vômito e de utopia.

E minto. Meu deus, como minto. Minto para mim, para você, para todos aqueles que me perguntam se está tudo bem. E, veja, tampouco se trata dos velhos chavões niilistas — tal questão é simplesmente impossível de ser respondida; mesmo que se considere a generalização como pura força de expressão, como definir o bem sem a ilusão das dicotomias?

“Eu me doei até as últimas feridas”

Aprendi que falar de mim relacionando com outrem democratiza o ego. Piedade àqueles que se conformam com tão pequenos estratagemas. Escrevo para me encontrar entre nuvens que nunca fenecem, me fartar de imagens quiméricas e rememorar beijos que acontecem só em sonhos.

Você encosta os lábios nos meus de um modo mais leve que o ar e meus pés, por um breve momento, encostam de novo no chão. Tal como Kundera, meu peito, porém, ainda insustentavelmente levita, pois minha boca anseia pela tua mordida, pelo pressionar das faces, como quem diz, prescindindo de língua ou palavra:

Fica.

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Mário Carneiro
Mário Carneiro

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