Um snorkel e dois macarrões

Mário Carneiro
2 min readAug 25, 2021

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“I could either drown
Or pull off my skin and swim to shore.

Now I can grow a beautiful shell for all to see”

Era um tipo de amor que não se ouve nas canções e poesias. Lirismo realmente não era o seu forte. Não obstante, ele a via em todas as ondas do mar e em todos os barcos atracados no cais. O que lhe inquietava era a possível imprescindibilidade da angústia.

Mas até Iemanjá precisa descansar em algum momento, não é?

Sentir a vida pulsar era como aquela novidade narrada por Gil, que vinha andar à praia com toda a sua beleza e risco. Ninguém acreditaria se fosse dito que por vezes é mais perigoso se doar àquilo que se conhece do que à absoluta incógnita — ambas noções surpreendentemente ingênuas e belas.

“[…]o máximo/do paradoxo estendido na areia”

No momento decisivo, ele limitou suas atenções e preces àqueles pequenos momentos que eles tão bem sabiam dividir, no espaço de um olhar ou gesto. Ela, mesmo sendo atleta, se afogava; ele, que queria mais do que tudo segurá-la, não sabia nadar.

Tem mentira que vale a pena quando se olha em retrospecto. Arrisco dizer que pode ser até moralmente relativizada. Nesse caso, por exemplo, ele mentiu para o medo, dizendo que só ia colocar um pé na água para sentir a temperatura. Sabia que a asfixia significava algo diferente para ela, que com certeza não precisava ser socorrida.

Pouco importa se rirão de você por prender a respiração com uma mão no nariz. Mesmo fria, é água do mar; o melhor a se fazer é entrar de corpo inteiro.

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Mário Carneiro
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